Para se pensar... ou não.
Dizem que com a idade, a força dos velhos passa para a garganta, não sei se é verdade, nem pretendo iniciar um debate com meus amigos da melhor idade.
Talvez daqui a quarenta anos eu tenha ainda alguma força, (principalmente na garganta), mas desconfio que minha grande força mesmo, será sustentada pela minha memória, desde que não me peçam para lembrar números, nomes, datas, aniversários... Coisas assim, eu já tenho esquecido, principalmente aniversários. Que memória seria esta, que não poderia lembrar nomes, datas, números?
Peçam-me para lembrar dos sons, das cores, dos cheiros e dos sabores das coisas, das embalagens e dos produtos da minha infância.
O som de um tambor de couro de boi enfeitado com bandeirolas, tocado na cadência certa no desfile de Sete de Setembro.
Os cheiros do querosene queimando numa lamparina, de uma conserva BORDOM, CORONADO ou ANGLO, de café torrando num caco de lata de querosene com pá de madeira, cheiro de vela...
As cores dos papéis de embrulho com os quais encapávamos nossos cadernos e livros.
Queiram saber da emoção de calçar um KICHUTE ou um CONGA pela primeira vez. Do cuidado que se tinha com o Kichute para não gastar as travas e os bidongos no cimento das calçadas.
Marcas que desapareceram e outras que venceram o tempo e embora tenham sofrido mudanças, ainda estão por aí. Dentre tantas, recordo principalmente pela utilidade:
Da lata de aveia QUAKER, com aquela figura de chapéu e cabelos brancos, que não conseguíamos definir o sexo, mas que parecia muito com a Tia Saruê;
Lâminas de barbear eram da GILLETE e da WILKHINSON;
A latinha de FERMENTO ROYAL;
As latas de LEITE MOÇA, CAMPO VERDE, MOCOCA e NINHO;
As latas de ÓLEO SACI, SALUTAR e SOYA (qual era mesmo o nome daquela que era meio quadrada e que fazíamos um violão?);
Pasta de dente era KOLYNOS (sei até hoje onde era produzida: Rodovia Raposo Tavares, Km-14, São Paulo);
Minha mãe lavava roupas com SABAO MINERVA, ZEBU e PAVAO e um cacete para afrouxar o sujo. Depois, a roupa ficava no quarador;
Como nunca faltava menino novo lá em casa, também não poderia deixar de ter um perfume de ALFAZEMA, com aquela moça (não seria a Noviça Rebelde?) carregando um tabuleiro de flores num belo campo, florido...;
Perfume era conhecido como extrato e o mais famoso entre os pobres era o AVANÇO.
Os tecidos eram TERGAL, BRIM, TERBRIM, ESTOPA, VOLTA-AO-MUNDO, CHITA, CHITAO, LINHO e MURIM.
Fósforo era FIAT LUX, OLHO, PINHEIRO e ARGOS, (do palito chato), que os mais pobres cuidadosamente partiam ao meio dobrando o número de palitos para 80.
Pela cozinha, tinha sempre um papeiro, uma chaleira e um coador de café, e uma lamparina (que é parente da poronga);
Nos novenários as marcas estavam por toda a parte: RefrigeranteBARÉ, cigarros ARIZONA, CONTINENTAL, REMO, CARLTON, MINISTER, PLAZA e HOLLYWOOD
Goma de mascar era CHICLETS ou PING-PONG.
Fortificante era e é BIOTÔNICO FONTOURA misturado comÓLEO DE FÍGADO DE BACALHAU.
Linha de costura era ZEBRA, que roubávamos para soltar papagaios. Máquina de costura era ELGIN, SINGER ou VIGORELI.
Eletrola era ROUXINOL, rádio era ELETRONIC ou SEMP. Pilhas para fazê-los tocarem se comprava pilhas RAYOVAC eGATO.
Os barcos eram tocados a motores CLINTON, BRIGS STRATION, (burro-preto), MONTGOMERY, TIETÊ eYANMAR.
E crediário era nas CASAS PERNAMBUCANAS.
Queiram saber essas coisas, questionem uma memória feita a partir das marcas dos produtos, emoções, de cores, de sentimentos.Emoções de uma época ainda recente, mas que é impossível mensurar a importância no futuro.
Só para avivar a memória...
1 comentários:
Há uns dois ou três natais eu dei um livro pra minha mãe chamado: "O mundo acabou". E tem falando sobre um monte de coisas que existiam antigamente, mas que hoje não existe mais. É um barato, a gente deu altas risadas!
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